✓
Mensagem enviada com sucesso!
Prezado(a) NOME. Obrigado por entrar em contato,
Informamos que recebemos sua mensagem, e que vamos responder o mais breve possível.
Atenciosamente kolenu.
FECHARGostou do Conteúdo?
Então Compartilhe“ ‘Quem sou eu’ envolve uma jornada que passa por meus pais, meus avós e chega ao ponto mais distante possível na linha do tempo que abriga os meus ancestrais. É minha, também, a história dos que vieram antes de mim. Eu posso escolher não dar continuidade a ela, mas negá-la significa, de certa forma, viver uma mentira. Porque minha identidade começa com a história da minha família” (Rabino Jonathan Sacks. Uma Letra da Torá)
“Não serei eu a letra a faltar na Torá” (Rabino Jonathan Sacks. Uma Letra da Torá)
Nesta semana, estudamos mais duas porções unificadas da Torá: Nitsavim e Vaiêlech. O Rabino Alfred Kolatch explica em seu livro This is The Torah (1985), traduzido no Brasil como Os Porquês da Torá (2004, p. 137): “basicamente, a combinação é feita para assegurar que as 54 porções nas quais é dividido o Pentateuco sejam lidas durante todo o decurso do ano, para que o ciclo anual de leitura da Torá seja concluído sempre em Simchat Torá”. Ademais, o Rabino Alfred acrescenta: “o fato de o calendário judaico ter sete anos bissextos a cada ciclo de dezenove anos, e que nesses anos um mês de Adar adicional é agregado ao calendário, afeta a combinação ou a separação das Sidrôt [Perashiôt]” (2004, p. 137).
Nitsavim mostra a continuação do discurso de Moshé Rabênu para a nova geração de Am Israel que está prestes a entrar na Terra Prometida, discurso que – conforme Rashi – foi proferido beiom motô (no dia da morte de Moisés), salientando-se, também, como uma despedida, já que na porção seguinte – Vaiêlech – Yehoshua (Josué) é frisado como seu sucessor: “Vós todos estais hoje presentes diante do Eterno, vosso Deus: os cabeças de vossas tribos, vossos anciãos e vossos policiais, todo homem de Israel; as vossas crianças, as vossas mulheres e o peregrino que está no meio de teus acampamentos, desde o rachador de lenha até o tirador de água” (Devarim/Deuteronômio 29:9-10). Mas é um ajuntamento da nação para algo de profundo impacto pactual e atemporal: “para que entres na aliança do Eterno, teu Deus, e no Seu juramento que o Eterno, teu Deus, faz contigo hoje” (Devarim 29:11).
Está Am Israel circundando a Arca da Aliança (Ribi Abraham Ibn Ezra) para entrar nessa aliança: que aliança é essa? Dom Isaac Abravanel traz a seguinte explicação: “e visto que agora quis o Eterno, abençoado seja, fazer ato de bondade com eles, o qual diz respeito à herança da Terra Sagrada, foi necessário vir introduzi-los numa nova aliança, pois que a primeira era acerca da submissão de seus corpos [ao serviço divino] e a sujeição de sua fé. E a segunda é a respeito da herança da Terra” (tradução do hebraico minha).
Uma segunda aliança “em acréscimo à aliança do Sinai”, conforme o Rabino Aryeh Kaplan ZT”L, que ainda traz a opinião do Midrash Tanchuma 3 e de Ribi Bachia Ibn Pakuda segundo a qual “uma nova aliança foi necessária porque a original foi violada com o Bezerro de Ouro”. Não obstante, o Ba’al haTurim explica que devido ao fato de que o mesmo verbo de nitsavim aparece em Shemôt/Êxodo 19:17 – Vaitiatsevú betachtít hahar – “E eles estavam presentes ao pé do monte [Sinai]” – Moshé fala em termos similares no momento de Nitsavim. São alianças distintas, mas idênticas em seu propósito com o povo, como bem atesta o Rabino Avie Gold. Portanto, a natureza pactual dessa segunda aliança diz respeito à aquisição de Érets Israel como lar nacional de Am Israel, ainda por ser conquistada ipso facto sob a condução de Josué.
Qual é a natureza atemporal dessa aliança? “E não somente convosco eu faço esta aliança e este juramento, mas com aquele que hoje está aqui presente diante do Eterno, nosso Deus, e com aquele que hoje não está aqui convosco” (Deuteronômio 29:13-14). Aqui está a natureza atemporal ledor vador dessa segunda aliança com respeito à herança da Terra de Israel e suas disposições legais: Rashi, baseando-se no Midrash Tanchuma 3, diz: veaf im dorot haatidím lihiôt – e mesmo com as gerações vindouras por existir. O mesmo sustenta, entre outros, Ramban – Nachmânides, Ribi Obadiá Seforno e este acrescentando que as gerações seguintes futuras só herdarão a Terra Prometida por causa da aceitação da segunda aliança pela geração presente em Nitsavim.
Há um detalhe outros sábios atestaram: que as almas dessas gerações vindouras estavam lá na ocasião de Nitsavim, conforme, por exemplo, Ben Ish Chai, em seu Atéret Eliáhu. Ocasião que também fora o dia do aniversário de 120 anos de Moshé Rabênu e do falecimento dele, alav hashalom (Cf. Sotá 13b). Já o Midrash Tanchuma traz a opinião de que todas as neshamot desde Adam haRishon até o Final do Mundo culan haiú beMatan Torá – todas estavam presentes na Entrega da Torá, mesmo baseada nesse pasuk de Nitsavim.
A propósito, houve um grande sábio de Torá que confirmou o que ensinou o Ben Ish Chai. Trata-se do Rabino Manoel Dias Soeiro (1604-1657), conhecido pelo seu nome hebraico Menasseh ben Israel, nascido na Ilha da Madeira, em Portugal, e que havia sido marrano, mas posteriormente retornou ao Judaísmo, tornando-se líder rabínico da comunidade hispano-portuguesa de Amsterdam. Em sua obra Nishmat Chaím 2:16, o Ribi Menasseh ben Israel sustenta que a supracitada passagem da Torá se refere não só às almas das pessoas vivas e presentes de forma corpórea na ocasião da Entrega da Torá, mas também às almas não-criadas das futuras gerações. Os descendentes dos forçados estavam lá, especialmente aqueles e aquelas que retornariam/retornarão ao judaísmo de seus antepassados.
Marranos, anussim? Nossa causa histórica com seu retorno ao judaísmo previsto na porção Nitsavim num período de tempo chamado acharit haiamim (final dos dias):
“E isto que é dito sobre entre todas as nações para onde o Eterno te lançou [Devarim/Deuteronômio 30:1], quer dizer: que eles se misturaram com elas e eles são considerados como gentios. Porém, eles em seus corações regressarão para o Eterno”.
“E ainda mais é aludido em seu dito: “E circuncidará o Eterno, Teu Deus, o teu coração e o coração dos teus descendentes” [Devarim/Deuteronômio 30:6] que ele diz respeito a uma porção dentre os forçados [anussim], pois que muitos deles têm prepúcios no coração e na carne e não foram circuncidados. E, portanto, diz HaShem, abençoado seja Ele, que não só circuncidará a carne deles com mitsvot, mas também circuncidará o prepúcio do coração deles. Mas, ainda que hajam nascido nos caminhos dos gentios e em seus costumes, o coração deles irá amar o Eterno com toda sinceridade [lit. bechol lev] e com toda vitalidade [lit. bechol néfesh] (tradução minha).
O fenômeno histórico e atemporal da busca sincera dos descendentes dos forçados ibéricos fora previsto pela Torá nos chamados tempos finais, nos quais se insere a nossa contemporaneidade, como trazido claramente nesse Comentário de Dom Isaac Abravanel sobre Devarim 30:1. Nele, cujo excerto citamos, esse grande sábio lusitano ensina que a profecia de Moshé Rabênu é acerca da volta de descendentes do povo judeu em tempos futuros após haverem saído de seu afastamento geracional do Judaísmo de seus ancestrais, misturando-se com os gentios. Parafraseando a epígrafe supracitada e que consiste das palavras do Rabino Jonathan Sacks: é a busca da identidade ancestral da família baseada na pertença à história anoussita dos antepassados e que vai ainda mais longe, até o ponto pactual e atemporal de Nitsavim.
O Rabino Jonathan Sacks, em seu livro Uma Letra da Torá, traz o ensinamento hassídico de Ba’al Shem Tov de que Am Israel “é um Sêfer Torá vivo e que cada judeu é uma de suas letras”. A mitsvá da escrita do Sêfer Torá é tema da porção Vaiêlech: “e agora, escrevei para vós este cântico, e tu ensina-o aos filhos de Israel; ponde-o na sua boca, para que este cântico Me seja por testemunha contra os filhos de Israel” (Devarim/Deuteronômio 31:19). Rashi explica que se refere ao cântico de Haazínu, fato incontestável e que é o nome da próxima porção. Mesmo assim, como sabemos que esse versículo se refere à última mitsvá da Torá? Conforme Rambam explica no Sêfer haMitsvôt, Mandamento Positivo 18º: “como não é permitido transcrever alguns trechos dela [da Torá], as palavras “este cântico” devem necessariamente significar a Torá completa, que inclui “este cântico”” (Cf. San’hedrin 21b; Mishnê Torá, Hilchot Tefilin uMezuzá veSêfer Torá VII:1).
Visto que nem todo judeu tem a habilidade de escriba para escrever seu próprio Sêfer Torá, esse mandamento pode ser cumprido destes modos: 1) Preenchimento dos contornos das letras, por meio de sua compra, que compõem as dez últimas linhas da Torá, deixados dessa forma pelo sofêr para que os membros da sinagoga, durante a cerimônia de dedicação do Rolo da Torá, possam participar dessa mitsvá; 2) Contribuição para cobrir o custo dele; 3) Compra de Chumashim impressos. Sua escrita pode levar de nove meses a um ano e os materiais utilizados pelo escriba são os seguintes: pergaminho, tinta, pena de ave, marcador com ponta, régua e um Ticún Soferím (literalmente, “Corretor dos Escribas”), livro cuja publicação teve início com a invenção da imprensa, sendo uma cópia fiel impressa com a escrita de um Rolo de Torá. “Para evitar equívocos na escrita de um Sêfer Torá, o escriba deve ler em voz alta a sentença do Ticún que está prestes a copiar”, conforme o Rabino Alfred Kolatch, em Os Porquês da Torá.
Um costume muito bonito é a pessoa visualizar a primeira letra de seu nome hebraico quando o Sêfer Torá é erguido diante da comunidade. Em seu Sidur Kol Eliáhu, o Rav Mordechai Eliáhu ZT”L diz que o subinte deve olhar para as letras da Torá, pois que isso propicia or gadol – grande luz – para a pessoa, como também buscar uma palavra com a primeira letra de seu nome hebraico. Já foi dito que o Ba’al Shem Tov ensinou que cada judeu é uma letra da Torá.
Os anussim não seriam, também? Estão codificados na profecia de Moshé Rabênu que consta de Devarim 30: há aqueles que reacenderam a tinta de suas letras, voltando-as ao estado kasher; mas há aqueles cujas letras estão pessulôt, apagadas, aguardando sua iniciativa sincera de retorno para saírem do estado de passul para kasher. Ainda são letras que faltam, pois nem todos querem um sofêr legítimo para reacender seus espaços apagados. Nem todos serão letras da Torá: preferirão ser letras de outros pergaminhos.
Aos que estão voltando ou que já voltaram, deixo estas palavras do Rabino Jonathan Sacks, constantes de seu livro Uma Letra da Torá: “as palavras mais eloquentes que Deus disse a Abraão, a Jacob, a Moisés e aos profetas foram seus respectivos nomes. A resposta aos chamados era simplesmente Hinêni, ‘Aqui estou’. O mesmo chamado, a história judaica faz a cada um de nós: continuar a narrativa e escrever nossa própria letra no pergaminho da Torá” por meio dos nossos descendentes ledor vador. Cada um de vocês é um Álef, um Bêt, um Guímel, um Dálet, enfim, um Tav: letras vivas da Torá, herdeiros fidedignos daqueles que estavam na Aliança do Sinai e na Aliança da Herança da Terra de Israel em Nitsavim!
Shabat Shalom!
Muchos Añyos Saludosos!
Prof. Hazan Fernando Oliveira
Gostou do Conteúdo?
Então Compartilhe